História

A Real Barraca



Construída na sequência do terramoto de 1755 e designada por Real Barraca, o seu nome deve-se à sua estrutura em madeira anti-sísmica com que foi dotada. Segundo Cyrillo V. Machado, o traçado geral deste vasto edíficio incluindo a respectiva Capela Real, ficou a dever-se a J. C. Bibiena,(1717-1760). O edifício teve, no entanto, uma vida efémera e fui completamente destruído por um incêndio no ano de 1794. A planta apresenta um interessante aspecto pelo facto de ser acompanhada com uma legenda muito detalhada de todos os compartimentos interiores, fornecendo um panorama da complexa organização interior de um paço real. Vemos assim os formarem-se os vários aposentos destinados ao rei, à rainha e infantes articulados por sua vez com uma grande diversidade de salas de recepção. Aos aposentos régios seguem-se os aposentos para altos funcionários régios.

http://acasasenhorial.org/acs/index.php/en/fontes-documentais-en/plantas-antigas-en/215-real-barraca

Pela análise desta planta poderá concluir-se que o edifício teria um único piso ligeiramente sobrelevado, sobretudo do lado Poente, para compensar desníveis: algumas das escadas existentes poderiam, também, constituir acessos ao sótão da cobertura.


HISTÓRIA DO TERRITÓRIO


Palácio da Ajuda


Na Idade Média, o território que actualmente constitui a freguesia da Ajuda, fazia parte do reguengo de Algés. Em 1318, D. Dinis fez doação ao seu mosteiro de Odivelas de vários casais e herdades naquele reguengo: Pimenteira, Granjeiro, Junqueira, Massario, Monsanto, Pecinas, Paay Corocho, Cano, Penedo e Barro. Destas herdades e casais, o rei apenas reservou para si dois almargens para pasto dos seus cavalos (of. Chanc. D. Dinis, LIV. LII, fl. 121). Nos séculos XIV e XV, o reguengo de Algés foi sendo repartido e começam a surgir referências aos reguengos de Alcolena, Restelo e Monsanto. Em todos eles, era costume os moradores pagarem o quarto dos rendimentos ao donatário.


A freguesia da Ajuda assenta todo o seu princípio histórico na forma como normalmente se fundaram a maioria das povoações portuguesas, isto é, em torno de uma ermida de peregrinação. No caso da Ajuda, segundo a lenda, a notícia de ter sido encontrada uma imagem numa fenda de uma rocha fez com que o povo acorresse ao local para a ver e venerar. A ida costumada do povo tornou-se romaria e depois, a necessidade de ter um local para a ver e venerar. A ida costumada do povo tornou-se romaria e depois, a necessidade de ter um local para guardar as oferendas, levou à construção de uma ermida de Nossa Senhora da Ajuda. Depressa, ao redor da ermida, se começaram a montar as tendas de vendas, as barracas e até casas de pessoas que queriam viver sob protecção do santuário.

“Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda”


A Rua da Torre

                                                                                                                  

“Foy erecta esta Parrochia no Reynado de El Rey D.Manoel: constava antes do 1º. Terramoto de 680. fogos, q’. Habitavaõ nas ruas, traveças e Lugares seguintes. Rua direita de Bellem; Travessa das Brazias, ou de Manoel de Faria, Rua do Ferreiro; Rua da Horta; Rua do Gdª. Mór; Rua da Praça; Rua do Sarralheiro; Junqueira; Santo Amaro; em Alcântara; Rua Direita; Rua da Cruz; Rua da Tapada; Traveça das Fontaynhas; Rua dos Fórnos; Rua das Pedreiras; Rua do Princepe; Rua do Quebra Costas; O Lugar de Cazellas; Alculena; Ajuda; Bom Succésso; Pedrouços; Oliveiras; Monsanto; Pimenteiras Confina com as Freguezias de Santos, S. Isabel; N. Snrã. Do Amparo de Benfica; e S. Romaõ de Carnachide.”

No trecho acima, um dos mais antigos que se conhece, e do qual se manteve fielmente a forma escrita, pode verificar-se a enorme extensão da freguesia da Ajuda ao tempo da sua instituição, (séc.XV).

A primeira descrição conhecida da ermida de Nossa Senhora da Ajuda, data de 1551:

“A ermida de Nossa Senhora da Ajuda he anexa aa sé estaa fora dos muros, tem hum capellão que tem d’ordenado do cabido com as mais esmolas e benesses cem cruzados. há nesta ermida hum sprital em que há hûa casa para hum ermitão que tem, com gasalhado para pobres a que os confrades dão cama, lume , e agoa, e para isso tem hum moyo de trigo de renda. E tem duas confrarias: hûa de nossa senhora, e outra de san sebastiam. valem as esmolas destas confrarias trinta cruzados.”

(Cristovão Rodriguesde Oliveira, sumário em que brevemente se contêm algumas cousas que há na cidade de Lisboa, 1551, ed.biblion, Lisboa, 1938, pp. 46-47).

Nesta outra descrição a ermida de Nossa Senhora da Ajuda aparece como anexa à Sé. Talvez por isso se optou por considerar o ano de 1587 como ano oficial para a criação da freguesia:

“Naõ há no cartorio desta igreja noticia de sua primeira origem; porque os mais antigos livros doa assentos dos bautizados discorrem desde o anno de 1592, e já no de 1587 havia nella irmandades, como bem secollige de huns paineis de azulejo, que ainda permanecem nas paredes da igreja, onde se declaraa serem feitos no dito anno, e pertencerem hum à irmandade de S. Vicente, outro à do santo nome de jesus, outro à da senhora da ajuda, e a mesma inferencia de antiguidade se póde fazer por algumas antigas sepulturas, que aqui se conservaõ.”

(of. João Baptista de Castro, mapa de Portugal antigo e moderno, Lisboa, 1763, p. 205).

O cemitério anexo à primitiva ermida da Ajuda, parece remontar a 1551, de acordo com as informações fornecidas por Cristovão Rodrigues de Oliveira (summario das cousas de Lisboa). 
A ermida era pequena (acomodava cerca de 300 fiéis) e de grande simplicidade arquitetónica.

Em pouco tempo, houve a necessidade de substituir-se a ermida por uma igreja bem maior, e como D. Catarina, esposa do rei D. João III, com sua devoção, tivesse arrastado a corte atrás de si até ao local, muitos fidalgos começaram a construir casas de campo nesses sítios e isso obrigou a elevar a nova igreja à categoria de paróquia. Estava-se então em pleno séc. XVI, mas seria preciso aguardar mais 200 anos para que o lugar da Ajuda viesse a sofrer um verdadeiro desenvolvimento. Isso aconteceu, como em geral sucedeu em outros lugares da zona ocidental da Lisboa de hoje, com o grande terramoto de 1755. Após esse terrível flagelo e com a fuga da corte para locais não atingidos, levou, por receio das inundações, à sua instalação no Alto da Ajuda. Aí procedeu-se à construção de um palácio em madeira e lona, para a família real, e à montagem de um grande acampamento para instalar todos os serviços necessários à governação do reino. Mais tarde e por o palácio ter ardido, surgiu no seu lugar um outro edifício, o palácio da Ajuda dos nossos dias, e por compreensível arrasto, outras grandes moradias para os altos dignatários e casas para a criadagem e mestres de ofícios que serviam no palácio real e a corte. A primeira pedra para a construção do atual palácio da Ajuda é lançada em 17 de Julho de 1795. O projeto, da autoria de Manuel Caetano de Sousa, é desde logo contestado. As obras são interrompidas e só recomeçam em 1802 sob a orientação dos arquitetos Francisco Xavier Fabri e José da Costa Silva. As obras do palácio decorreram com interrupções e lentidão. Mas, como já acontecera com a do Paço de madeira, seriam um factor determinante no aumento populacional da freguesia.

Alguns nomes de ruas ainda existentes, tais como: D. Vasco, Bica do Marquês, Guarda Jóias, do Archeiro, Chaminés d’El Rei, etc., bem como os seus pátios, recordam origens e factos desses tempos. Todo este movimento está, afinal, na origem da freguesia da Ajuda de hoje.




O "futuro" terreno do Bº do Caramão da Ajuda, 1940


Em 1820 registava 3903 fogos para 16780 habitantes. Em 1840 possuía 2145 fogos para 7546 habitantes. Em 1833 é criada a freguesia de Belém, passando mais tarde a concelho. Em 1852 a freguesia da Ajuda separa-se de Lisboa e é integrada no concelho de Belém. Em 1959 é criada a freguesia de São Francisco Xavier.


História das Ruas

A calçada da Ajuda tem início na Rua da Junqueira e finaliza no cruzamento de três ruas: a Calçada do Mirante, a Rua do Marco e Rua das Açucenas. Posterior ao terramoto de 1755, o topónimo já se chamou Calçada Nova, Calçada Nova da Ajuda, Calçada Nova de Belém, entre outros nomes. Na área, antes do terramoto, existiam campos com plantações (pomares e campos de trigo), pois as casas de habitação só foram edificadas após a construção de casas senhoriais e do palácio real. Os edifícios são na sua maioria do século XIX e XX, alguns revestidos a azulejo. A emblemática calçada serviu de passagem a desfiles sociais e militares, procissões e cortejos reais, e posteriormente foi o local eleito para edificar um palácio de veraneio para a família real.


Caberá a D. João V (1689 – 1750) a compra de terrenos da zona, com a intenção de mandar edificar uma residência oficial de verão, contudo só no reinado de D. José I (1714 – 1777), mais propriamente em 1761, é que as obras foram concretizadas, ficando o palácio com a designação de “real barraca”. Já no reinado de D. Maria I, em 1794, o mesmo é destruído por um incêndio e, em 1796, a obra é iniciada a partir do traçado original do arquiteto das obras públicas e reais, Manuel Caetano de Sousa. O mesmo sofreu inúmeras críticas, considerado de “mau gosto”, o que levou à decisão de mandar refazer todo o traçado, respeitando, no entanto a área designada pelo arquiteto.

Em 1802 é reiniciada a construção do mesmo. Os arquitetos escolhidos para estar à frente da obra foram José da Costa e Silva (1747 – 1819) e o italiano Francisco Fabri (1761 – 1817), que fizeram predominar o estilo neoclássico, em detrimento do barroco. Recorreu-se a outros artistas, entre os quais os pintores Vieira Portuense, Sequeira e, mais tarde, Fuschini, Calisto e Taborda, os escultores Machado de Castro e Carlo Amatucci.

Vista sobre o Palácio da  Ajuda, 1940


Devido ao período instável provocado pelas invasões francesas, a construção do palácio sofreu várias interrupções até meados do século XIX. Somente após o casamento do rei D. Luís (1832 – 1889) com a D. Maria Pia (1847 – 1911) e as remodelações do interior a nível de higiene e da privacidade, o palácio começa a ser verdadeiramente habitado pela família real. A partir de 1908 funciona apenas para a realização de cerimónias de estado, em 1910, com a implantação da república é encerrado, reabrindo em 1938 como museu.

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